Numa época em que televisão nem internet existiam, a única diversão da criançada era “ler um gibi” frase muito dita pela garotada da época. Isto foi no período chamado de ouro dos quadrinhos, nos anos 30, 40 e 50, que tem como início na criação do personagem Super-Homem de Joe Shuster e Jerry Siegel em junho de 1938, pela revista Action Comics nº 1, revista essa que em leilões pode ultrapassar o valor de 2 milhões de dólares.
Foi um período em que incontáveis personagens e revistas foram criados, muitos na linha do “bebendo na água do outro”, ou seja, em que muitos plágios ocorreram, alguns foram até parar na justiça, um caso descarado e que pego como exemplo são os personagens Mandrake, o mágico, criado por Lee Falk em 1934 de grande sucesso, e Zatara, que também era um mágico, criado em 1938 por Fred Guardineer que também teve um considerável sucesso.
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| Action Comics nº 1 |
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| Mandrake, o mágico |
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| Zatara na revista Action Comics nº 14, notam a semelhança? |
Aqui no Brasil que já tinha revistas como O Tico-Tico, Mundo Infantil e A Gazeta Infantil, o sucesso dos quadrinhos norte-americanos não tardaria a chegar. Tudo começou no início dos anos 30, quando o jornalista Adolfo Aizen, que é considerado o “pai dos quadrinhos” no Brasil, em sua viagem aos Estados Unidos ficou maravilhado com o sucesso que tinha aquelas tiras ricamente ilustradas e com textos em balões, achou a ideia inovadora, comprou alguns exemplares e recolheu algumas tiras de jornais e resolveu vir ofertar aqui aos seus amigos editores a proposta. Primeiramente, ofertou ao seu amigo e patrão Roberto Marinho, dono do jornal O Globo, que achou a ideia um pouco ousada e arriscada recusando-a, o que deixou Aizen profundamente decepcionado, porém ele não desistiu e foi bater na porta do jornal A Nação, lá a proposta foi aceita, Aizen adquiriu os direitos dos personagens, e em 14 de março de 1934 foi lançado seu Suplemento Infantil, que vinha primeiramente como encarte do jornal, mas o sucesso foi tão grande que a partir nº 14, o Suplemento ganhou independência e passou a se chamar Suplemento Juvenil. Com tiragens colossais pra época, atingindo a soma de 200 mil exemplares por edição, Aizen tinha uma verdadeira mina de ouro nas mãos, porém mal imaginava ele que seu verdadeiro pesadelo estava por vir.
Vendo o sucesso que Aizen conseguia com seus quadrinhos, Roberto Marinho viu que tinha deixado escapar uma grande oportunidade, tentou voltar atrás em sua decisão e propôs a Aizen uma sociedade, Aizen agora em seu direito se negou, visto também que já tinha uma sociedade com o dono do jornal A Nação, Marinho foi categórico “Você vai se arrepender”.
Dito e feito em 12 de junho de 1937, Marinho lançava seu periódico, O Globo Juvenil, Aizen acusou Marinho de plágio copiando a palavra juvenil tomando o bonde de seu sucesso, Marinho porém alegou que o termo era comum na imprensa, sendo principalmente usado no meio esportivo. Aizen ainda lançaria a revista de igual sucesso Mirim, em resposta Marinho lançaria a revista Gibi, o que para Aizen seria mais um plágio de Marinho, Mirim em tupi significa pequeno e gibi era uma gíria na época que significava moleque. Marinho tinha um ponto a seu favor, era de família rica e dono de um grande meio de comunicação, foi pouco a pouco tomando os direitos dos personagens mais populares de Aizen, que em seguida mergulharia em crise e culminaria com o fechamento de sua editora o Grande Consórcio de Suplementos Nacionais.
Aizen ainda reuniria novas forças e mais tarde em 1945 fundaria sua outra editora, a Editora Brasil América Limitada, conhecida como Ebal e lançaria uma revista para cada personagem como Super-Homem e Batman, Marinho também fundaria outra editora especializada em quadrinhos, a Rio Gráfica Editora, conhecida como RGE, e também dedicaria um título para cada personagem como Mandrake e Fantasma, nos anos seguintes Aizen e Marinho disputariam o mercado igualmente, já com sua editora bem estruturada no mercado, Marinho foi a casa de Aizen e ambos voltaram a ser amigos, Marinho inclusive deu uma assinatura de todas as suas revistas para os filhos de Aizen, os dois ainda voltariam a se encontrar diversas vezes.
Este é um pequeno esboço da grande história que tem as histórias em quadrinhos no Brasil e seus dois maiores nomes e títulos, muitas outras editoras, nomes e títulos também fizeram parte desta verdadeira “Guerra dos Gibis” no Brasil, e é este o nome do livro lançado por Gonçalo Júnior que trata minuciosamente o assunto e eu recomendo a leitura.
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| Roberto Marinho e Adolfo Aizen. |